Por Alex Rabelo — Jornalista e Analista Político
O primeiro ano de mandato da prefeita Flávia Moretti (PL) mostrou, na prática, o quanto governar Várzea Grande é tarefa para poucos. Eleita com discurso de modernização, gestão eficiente e o ousado plano de conceder o Departamento de Água e Esgoto (DAE) à iniciativa privada, a gestora enfrentou um 2025 marcado por choques políticos, crises estruturais, desconfiança interna e desafios que testaram sua capacidade de comando desde o primeiro dia de governo.
Mesmo sob pressão, Flávia avançou em temas centrais do plano de governo — mas não sem enfrentamentos intensos ao longo de todos os meses.
Primeiro embate: Câmara de Vereadores confronta a prefeita logo na largada
Antes mesmo de completar 48 horas no cargo, a prefeita viu seu principal projeto — a concessão do DAE — ser questionado publicamente no plenário.
O presidente da Câmara fez questão de expor a discordância:
“Não é só chegar e dizer que vai fazer a concessão. Tem que analisar, ver o patrimônio do DAE. Será que o DAE não tem conserto?”, provocou.
A fala antecipou o que se confirmaria ao longo do ano: uma relação instável e repleta de tensões entre Executivo e Legislativo, dificultando a articulação política da prefeita.
Um início de governo sob colapso: dívidas, caos na limpeza e crise hídrica sem precedentes
Flávia assumiu afirmando que a gestão anterior deixou dívidas superiores a R$ 94 milhões, valor que, segundo ela, aumentou após análises adicionais. O impacto foi imediato: atrasos na limpeza urbana, contratos travados e dificuldades para manter serviços básicos funcionando.
Mas o pior ainda viria.
📌 A maior crise hídrica dos últimos anos
Em fevereiro, Várzea Grande viveu o mais grave colapso de água de sua história recente, atingindo captação, tratamento e distribuição simultaneamente.
A prefeita classificou o episódio como:
“Boicotes criminosos às estações do DAE.”
A suspeita, embora grave, nunca teve autores apontados oficialmente.
A crise levou à troca da direção do DAE:
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Saiu o coronel Sandro Azambuja
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Entrou Zilmar Dias, após intensa pressão política dos vereadores.
Chuvas, enchentes e famílias desabrigadas
Janeiro e fevereiro trouxeram ainda outro desafio: alagamentos severos nos bairros Alameda e Construmat. A prefeita percorreu as áreas e determinou ações emergenciais. Mesmo assim, moradores relataram medo e falta de estrutura preventiva.
Crise com o vice-prefeito: promessas de campanha e disputa de espaço
Em março, um novo foco de instabilidade explodiu: um forte atrito com o vice-prefeito Tião da Zaeli (PL).
O presidente estadual do PL, Ananias Filho, precisou intervir afirmando que:
“Havia compromisso de que obras, infraestrutura e parte da água seriam coordenadas pelo Tião.”
O acordo evitou rompimento imediato, mas a relação nunca mais foi a mesma.
Pauta popular: radares são retirados, mas ação vira alvo do Ministério Público
Mesmo em meio a conflitos internos, a prefeita cumpriu uma promessa de campanha: retirar 20 radares de trânsito da cidade.
O Ministério Público questionou a legalidade da medida.
A prefeitura respondeu afirmando possuir estudos técnicos que justificavam a retirada.
Embates com a família Campos: desgaste político e troca de acusações
Outro capítulo marcante foram as rusgas públicas com Júlio e Jayme Campos, influentes nomes políticos de Mato Grosso.
Em meio às críticas, Júlio chegou a declarar:
“Ela não é essa boneca formosa. Está cheia de defeitos. É uma gestão perturbadora.”
Apesar disso, Flávia manteve a interlocução ativa, chegando inclusive a visitar Jayme em Brasília.
Avanço estratégico: concessão do DAE entra em fase técnica
Mesmo sob ventos contrários, a prefeita avançou na principal promessa do mandato: a concessão do DAE.
Para isso, contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), responsável pelos estudos que darão base ao edital de licitação.
Flávia participou pessoalmente das reuniões técnicas — inclusive em São Paulo — e manteve a agenda como prioridade absoluta, defendendo que a universalização da água e do esgoto só será possível com investimento privado.
O ano termina com a maior crise política: Comissão Processante pode cassar a prefeita
Fechando um ano turbulento, a Câmara aprovou por 17 votos a 5 a abertura de uma Comissão Processante que pode levar à cassação do mandato de Flávia Moretti.
O motivo:
A suposta utilização de slogan da gestão nos uniformes escolares, o que poderia configurar propaganda pessoal com recursos públicos.
O vereador Charles da Educação afirmou ter feito alerta à prefeita ainda em julho:
“Alertamos sobre o slogan nos uniformes das crianças.”
Flávia rebateu dizendo que o processo tem caráter político e afirmou não temer a investigação.
Entre crises e conquistas, um primeiro ano que mostrou o quão difícil é governar Várzea Grande
A trajetória da prefeita em 2025 evidencia o tamanho do desafio que assumiu:
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Crises políticas internas
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Conflitos com o Legislativo
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Enchentes
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Colapso hídrico
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Pressão popular
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Embates com peças-chave da política estadual
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Uma Comissão Processante em andamento
E, apesar de tudo isso, Flávia avançou em agendas estratégicas, manteve firme o discurso de modernização e defendeu decisões impopulares, como a concessão do DAE.
Seu primeiro ano deixa claro:
governar Várzea Grande é enfrentar tempestades em todas as direções — e Flávia Moretti segue aprendendo a navegar em mar revolto.














