Em visita institucional ao Governo, prefeito de Cuiabá admite que precisa de meio bilhão para pavimentar ruas — revelando um rombo entre discurso e gestão
Em um gesto que evidenciou a dependência da Prefeitura de Cuiabá do Governo do Estado, o prefeito Abílio Brunini (PL) foi até o Palácio Paiaguás nesta semana para, oficialmente, apresentar uma demanda de R$ 500 milhões — ou meio bilhão de reais — ao governador em exercício, Otaviano Pivetta (Republicanos). O recurso seria, segundo Brunini, destinado à pavimentação de 100% das ruas e avenidas da Capital.
A visita, que deveria simbolizar integração institucional, acabou revelando um ponto crítico: a gestão municipal não tem autonomia financeira nem planejamento suficiente para resolver problemas básicos de infraestrutura urbana.
R$ 500 milhões: valor exorbitante e sem plano
O valor solicitado equivale a cerca de 10% da arrecadação total prevista para Cuiabá em 2024. Segundo dados da Lei Orçamentária Anual (LOA), o município deve arrecadar aproximadamente R$ 5 bilhões este ano. A pergunta que fica é: se 10% são suficientes para pavimentar toda a cidade, o que está sendo feito com os outros 90%?
A ausência de um plano técnico detalhado para justificar o meio bilhão requisitado também chama atenção. O pedido foi feito de maneira informal, sem protocolo público de projeto executivo, mapeamento de bairros prioritários, cronograma de obras ou estimativa de impacto social e econômico. Isso acende um alerta sobre falta de planejamento técnico e governança.
“Quem ajudou a ganhar, precisa ajudar a governar”
Durante o encontro, Abílio ainda declarou que espera o retorno do governador Mauro Mendes (União) para que este possa “anunciar de que forma vai ajudar Cuiabá”. A fala pode ser lida como um lembrete político: o grupo do governador apoiou, ainda que nos bastidores, a eleição do atual prefeito, em articulações que garantiram ao PL vitórias em Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis — principais colégios eleitorais de Mato Grosso.
Aparentemente, a fatura eleitoral está sendo cobrada: quem ajudou a eleger, agora precisa financiar a gestão.
Blitze, maquiagem e arrecadação sem retorno social
A fragilidade da gestão municipal também se revela em outras frentes. Nesta semana, uma mega operação da chamada “Lei Seca” foi realizada na Avenida Carmindo de Campos, em Cuiabá. O que deveria ser uma ação educativa acabou escancarando a lógica arrecadatória sem efetividade real na segurança pública.
A operação mobilizou mais de 50 viaturas e 100 agentes públicos, e resultou em 91 autos de infração — sendo a maioria por documentação irregular, alcoolemia e direção sem CNH. Ao todo, 53 veículos foram removidos. Nenhuma apreensão relevante, nenhum flagrante de crime grave, nenhum resultado expressivo no combate à criminalidade.
O evento, promovido pelo Gabinete de Gestão Integrada (GGI) da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), envolveu ainda o Detran, PM, Polícia Penal, Deletran, Guarda Municipal e até o Sistema Socioeducativo. Todo esse aparato tem custo elevado aos cofres públicos e levanta suspeitas: a operação teria sido mais voltada à arrecadação e à geração de gratificações do que à segurança da população.
E o titular da Sesp? Estava em missão internacional com o governador em viagem à China e Coreia do Sul. A pergunta que fica: será que eles viram alguma blitz como essa por lá?
Governar exige mais do que discurso
O discurso fácil e as visitas institucionais não escondem mais a realidade de uma gestão fragilizada, que ainda não mostrou a que veio. Falta planejamento, sobra improviso. Falta transparência, sobra cobrança. Cuiabá precisa de soluções concretas — e não de um prefeito que terceiriza responsabilidades.
A população cuiabana, que confiou nas urnas, agora espera respostas. Porque não basta ganhar. Tem que saber governar.














