O envelhecimento das lideranças tradicionais, o avanço das redes sociais e o surgimento de uma nova geração colocam em xeque o domínio dos velhos nomes da política mato-grossense
Com a chegada de 2026, uma pergunta inevitável ecoa nos bastidores da política estadual: a era dos caciques está mesmo chegando ao fim? Ou eles ainda vão provar que política se faz com grupo consolidado, articulação de bastidor — e muita sola de sapato?
O que é certo é que o jogo mudou — e mudou rápido. Estruturas partidárias que antes garantiam vitórias agora enfrentam ceticismo. A tradição familiar já não assegura reeleição. O eleitor se tornou mais crítico, mais conectado e muito mais exigente. As redes sociais deram protagonismo a vozes que antes não tinham espaço, enquanto os bastidores políticos precisaram se adaptar à nova dinâmica digital.
O desgaste da velha guarda e o peso do tempo
Mato Grosso foi, por décadas, palco de lideranças históricas, verdadeiros construtores da política regional. Porém, muitos desses nomes enfrentam hoje não apenas o desgaste político, mas também o desafio de lidar com um eleitorado mais jovem e menos fiel às tradições partidárias.
Carlos Bezerra (MDB), ex-governador e ex-senador, influente por mais de 40 anos, não conseguiu emplacar um herdeiro político direto. O MDB, antes um dos pilares da política estadual, hoje busca uma nova identidade.
Julio e Jaime Campos, nomes históricos de Várzea Grande, construíram uma base sólida ao longo dos anos. Jaime, atualmente senador, já foi governador e prefeito. Mas a ausência de uma nova liderança familiar consolidada lança dúvidas sobre a continuidade do clã nas próximas eleições.
Pedro Taques, ex-senador e ex-governador, tem tentado se reposicionar após derrotas duras nas urnas. Conhecido por seu discurso combativo, hoje encontra dificuldade para se reconectar com as bases populares.
Wilson Santos, que já foi vereador, prefeito de Cuiabá, deputado estadual e federal, também enfrenta o peso da longa trajetória. O capital político, antes seu maior trunfo, agora precisa ser convertido em algo novo para continuar relevante.
Jonas Pinheiro, falecido em 2008, e outros ícones como Dante de Oliveira e Silval Barbosa, não conseguiram estabelecer sucessores políticos dentro de suas famílias, encerrando seus ciclos históricos sem continuidade geracional.
A exceção é José Riva, ex-presidente da Assembleia Legislativa, que conseguiu consolidar sua filha, Janaina Riva, como uma das maiores forças da nova geração. Com forte atuação parlamentar, presença em debates sociais e habilidade de comunicação digital, ela é cotada para o Senado ou até o Governo de Mato Grosso em 2026.
Redes sociais, engajamento e linguagem direta: a nova política chegou
O eleitor de hoje não quer só promessas: ele quer proximidade, prestação de contas e presença. As redes sociais se tornaram um palanque permanente. Sai o comício e entra o reels. Sai o discurso longo e entra o vídeo de 30 segundos com mensagem certeira.
Candidatos que dominam a linguagem digital e têm posicionamento firme em causas relevantes ganham espaço com velocidade. Os influenciadores políticos locais, os vídeos virais, os podcasts e até os memes se tornaram armas eleitorais tão poderosas quanto uma coligação tradicional.
Quem representa essa nova geração de líderes?
Max Russi
Presidente da Assembleia Legislativa, Max Russi tem perfil agregador, transita com desenvoltura entre lideranças de diferentes espectros ideológicos e é visto como nome de consenso para 2026. Sua habilidade de articulação política, postura institucional e projetos voltados ao desenvolvimento regional o colocam como possível sucessor do governador Mauro Mendes.
Fábio Garcia
Deputado federal eleito em 2022 e atual secretário-chefe da Casa Civil, Fábio Garcia é peça-chave na engrenagem do governo estadual. Jovem, articulado e com experiência na área econômica, ele representa o perfil técnico-político que agrada ao eleitor urbano, empresarial e moderado.
Léo Bortolin
Ex-prefeito de Primavera do Leste, atual presidente da AMM (Associação Mato-grossense dos Municípios), Léo se destaca por sua gestão inovadora, boa comunicação e proximidade com os prefeitos. Com forte inserção municipalista, deve disputar uma vaga na ALMT em 2026 com boas chances de vitória.
Gilberto Cattani
Deputado estadual em ascensão, Gilberto Cattani tem ganhado espaço com um discurso direto, linguagem popular e defesa de valores conservadores. É um dos principais nomes da direita em Mato Grosso e defensor declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Cattani tem se posicionado fortemente a favor do agronegócio, da agricultura familiar, da valorização da educação infantil e da liberdade econômica. Além disso, ele tem apoiado eventos como a FEMODA-MT e a EXPOMULTI-MT, que fomentam o varejo e impulsionam a geração de empregos e tributos no estado. Seu estilo combativo e próximo do eleitorado o torna um nome promissor para 2026.
Emanuel Pinheiro e Emanuelzinho: a força do legado familiar
Mesmo diante de críticas e desgastes, Emanuel Pinheiro mostrou fôlego ao eleger seu filho, Emanuelzinho, como deputado federal. O feito demonstra que, quando há estrutura local e capital político bem cultivado, ainda é possível resistir às ondas de renovação.
Agora, a dúvida é: Emanuel Pinheiro será candidato em 2026 ou liderará estrategicamente a campanha do filho rumo a um novo cargo? De qualquer forma, o sobrenome Pinheiro segue em evidência na capital.
As urnas de 2024 deram o recado
As eleições municipais de 2024 foram um divisor de águas. Em Várzea Grande, reduto tradicional, os candidatos da velha guarda foram surpreendidos por nomes mais jovens, com discurso renovado. O mesmo ocorreu em Rondonópolis, onde a “vitória certa” dos caciques foi revertida nas urnas por campanhas ágeis e conectadas com a população.
Esses resultados mostram que o eleitor quer mais do que passado: ele quer futuro. Quer propostas claras, linguagem acessível, resultados mensuráveis e um representante que fale sua língua — especialmente nas redes sociais.
Será o fim — ou o recomeço dos que sabem se reinventar?
Os caciques ainda têm trunfos valiosos: grupo político consolidado, influência institucional e décadas de história. Mas isso já não basta.
Por outro lado, os novos nomes surgem com estratégia, agilidade, comunicação digital e domínio de pautas atuais. E o mais importante: falam diretamente com um eleitor mais informado e menos influenciável por cabos eleitorais e alianças partidárias antigas.
2026 será decisiva
Será que os velhos caciques vão provar que ainda têm força para decidir os rumos de Mato Grosso? Ou a nova geração vai, enfim, tomar o protagonismo da política estadual?
Entre o fim de uma era e o início de um novo tempo, quem decidirá é o eleitor
Mato Grosso vive uma transição histórica. A experiência ainda conta, mas não vence sozinha. As redes sociais, a autenticidade, a comunicação moderna e o alinhamento com os anseios da população se tornaram fatores decisivos.
2026 será mais do que uma eleição. Será o momento em que o eleitor definirá quem merece escrever os próximos capítulos da história política do estado.
Será o fim? Ou o novo começo para quem sabe se adaptar?
A resposta, como sempre, virá — nas urnas.














