A pouco mais de um mês do julgamento dos dois acusados de assassinar sua filha, Raquel Maziero Cattani, de 26 anos, o deputado estadual Gilberto Cattani (PL) concedeu uma das declarações mais duras e emocionais desde o crime que abalou Mato Grosso.
Com o Júri Popular marcado para 22 de janeiro de 2026, na comarca de Nova Mutum, o parlamentar afirma estar desacreditado do sistema de Justiça, expondo um sentimento compartilhado por muitas famílias que, assim como ele, enfrentam a perda violenta de uma mulher vítima de feminicídio.
“Não acredito mais em Justiça”: fala de Cattani ecoa a dor de milhares de famílias
Em tom firme e carregado de emoção, Cattani desabafou que não deposita mais esperança no desfecho do julgamento, apesar do entusiasmo de sua esposa, Sandra Maziero Cattani, que deve acompanhar presencialmente toda a sessão.
“Eu não creio em justiçamento. Não acredito muito em Justiça mais. O que for feito, vai ser feito. Da minha parte, não tenho expectativa, é só esperar o que vai acontecer.”
O parlamentar descreveu um sentimento de profunda frustração com o funcionamento do Judiciário, criticando especialmente o modelo que, segundo ele, não protege as vítimas e ainda garante, com recursos públicos, a defesa de acusados de crimes brutais.
“No nosso país não há Justiça mais. A defensoria pública defende, com nosso dinheiro, quem tira a vida de cidadão honesto. A única Justiça que eu conheço é quando a vítima é atendida e o agressor é punido da mesma forma. Hoje ficam órfãos meus netos, e as demais vítimas de feminicídio que não são assistidas pelo Estado.”
As declarações de Cattani ganham força pelo simbolismo de sua trajetória: um pai que perdeu a filha de maneira brutal, mas que tem transformado a dor em luta política, propondo leis e cobrando mudanças estruturais na proteção às mulheres e aos órfãos de feminicídio.
O crime que chocou o Estado
Raquel Maziero Cattani foi assassinada em 18 de julho de 2024, no Rancho PH, no Assentamento Pontal do Marape, em Nova Mutum. De acordo com o Ministério Público, o crime foi motivado pelo inconformismo de Romero Xavier Mengarde, ex-marido da vítima, que não aceitava o fim do relacionamento após 10 anos de casamento.
Segundo a denúncia:
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Romero teria oferecido R$ 4 mil ao irmão, Rodrigo Xavier Mengarde, para cometer o assassinato;
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Rodrigo teria aguardado Raquel dentro da casa e a atacado com golpes de arma branca;
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A perícia apontou múltiplas lesões, caracterizando meio cruel e extrema brutalidade;
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Após o crime, Rodrigo ainda teria furtado pertences da vítima e fugido na motocicleta dela.
Ambos irão a julgamento por:
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Feminicídio
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Motivo torpe
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Emboscada
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Promessa de recompensa
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Homicídio qualificado
Julgamento será presidido pela juíza Ana Helena Alves Porcel Ronkoski
A magistrada determinou:
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réus presentes no plenário em roupas civis, sem algemas;
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apresentação de objetos e armas usadas no crime;
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oitiva de testemunhas de acusação e defesa, incluindo a mãe da vítima;
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plenário integralmente presencial.
Raquel Cattani: a jovem produtora que transformou a queijaria da família em referência nacional
Raquel era fundadora da Queijaria Cattani, onde produzia queijos artesanais premiados. Aos 26 anos, era reconhecida nacionalmente pela qualidade dos produtos e pela dedicação ao trabalho.
Sua morte interrompeu uma trajetória promissora e deixou dois filhos pequenos, que hoje inspiram Cattani a seguir lutando.
Uma fala que representa milhares
O desabafo do deputado revela mais do que a dor de um pai: expõe um sistema que, muitas vezes, falha com as vítimas e com quem fica.
Sua fala ecoa o sentimento de famílias que enfrentam os mesmos traumas, processos lentos, sensação de impunidade e um Estado que ainda não consegue proteger plenamente mulheres em situação de risco — nem amparar as crianças que ficam órfãs.
À medida que o julgamento se aproxima, cresce não apenas a expectativa pela condenação, mas pela reflexão: quantas Raquéis ainda precisarão morrer para que o sistema funcione?














