A saúde pública em Mato Grosso – e em especial na capital, Cuiabá – vive um colapso silencioso, que se repete em ciclos. Cada escândalo, cada decisão administrativa ou política, escancara uma verdade que a população sente na pele há anos: algo precisa mudar. E com urgência.
Nesta sexta-feira (13), o prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL), anunciou que o município está rompendo com o Consórcio Intermunicipal de Saúde Vale do Rio Cuiabá (Cirvasc), após identificar indícios de má gestão e compras com valores muito acima do mercado.
Entre os exemplos citados, um chamou atenção: a aquisição de cadeiras de rodas por R$ 4.200, sendo que no mercado o mesmo modelo pode ser encontrado por cerca de R$ 1.000. E, segundo o prefeito, ainda foram entregues cadeiras diferentes das contratadas. O sobrepreço ultrapassaria 200%.
“Não vimos mais viabilidade técnica e econômica para seguir com esse contrato. A cadeira entregue era diferente da que foi comprada”, declarou Abílio.
Saúde fragilizada: de quem é a culpa?
A denúncia levanta questionamentos maiores. Afinal, quantos contratos como esse já passaram despercebidos? Quantas vezes o dinheiro da saúde foi mal aplicado – ou pior, desperdiçado – enquanto faltava atendimento, estrutura, insumos e respeito nos hospitais públicos?
O prefeito também revelou que Cuiabá deixará outro consórcio regional, e sugeriu que consórcios no futuro só teriam validade com fiscalização direta do Ministério Público ou do Tribunal de Contas, para garantir transparência e controle social.
“Se for com controle externo, com o TCE ou Ministério Público acompanhando de perto, passa a ser interessante. Do jeito que está, não temos interesse em continuar.”
E a população? Essa segue pagando a conta
Enquanto os bastidores da saúde são tomados por irregularidades, quem precisa de atendimento segue esperando: faltam médicos, faltam exames, faltam medicamentos e, principalmente, falta confiança.
Nos corredores de UPAs e hospitais, a fila não é só por atendimento, é pela dignidade. O escândalo das cadeiras de rodas não é um caso isolado — é mais uma peça de um sistema doente. E a pergunta que fica é inevitável:
Até quando a saúde vai aguentar?
O rompimento com o consórcio pode ser um passo para mudar a lógica, mas não resolve sozinho um problema estrutural que se arrasta há décadas. E neste momento, mais do que encontrar culpados, o que o povo mato-grossense espera é ação concreta, ética e urgente.
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