Brigas, palavrões e disputas por vaidade tomam o lugar do debate, enquanto a capital tenta se reorganizar e o cidadão cobra resultados reais

Durante anos, a Câmara Municipal de Cuiabá carregou apelidos nada honrosos — “Casa dos Horrores”, “puxadinho da Prefeitura”, “palco de escândalos”.
Esses rótulos nasceram de crises políticas, de uma sucessão de escândalos e da falta de sintonia entre o Legislativo e a sociedade.

Mas o tempo passou — e 2025 mostra que muito pouco mudou.
Entre discursos inflamados, ofensas e vídeos que viram conteúdo nas redes sociais, a imagem do Parlamento cuiabano segue abalada.
E, para quem acompanha de fora, parece que o foco na política se perdeu entre likes e curtidas.

Do plenário ao palco da discórdia

Na sessão da última terça-feira (7), o plenário mais uma vez virou manchete — não por um projeto importante para Cuiabá, mas por uma nova cena de confusão e desrespeito.
Durante o debate sobre a criação da nova Secretaria de Planejamento Estratégico, proposta pelo prefeito Abilio Brunini (PL) e aprovada em regime de urgência, o microfone registrou a palavra “putaria”, dita por uma parlamentar exaltada.

A presidente da Casa, vereadora Paula Calil (PL), precisou suspender os trabalhos por cinco minutos para conter os ânimos e evitar que o embate tomasse proporções ainda maiores.
Paula, que tem buscado reorganizar o Legislativo e restabelecer a ordem dentro da Casa, teve mais uma prova do desafio que é manter o foco e o respeito em meio ao clima de vaidade e conflito político.

O momento mais tenso veio quando um vereador, irritado, desafiou o outro a “resolver lá fora” — um comportamento inaceitável para quem representa o povo e deveria dar exemplo de civilidade.

E este não foi o primeiro episódio.
Em outro caso recente, dois parlamentares chegaram a brigar por “paternidade” de uma obra pública, e a confusão terminou com um deles atropelado por um trator — um retrato literal do descontrole político que tomou conta da Câmara.

Enquanto isso, Cuiabá espera

Enquanto os vereadores se perdem em brigas e ofensas, Cuiabá segue enfrentando velhos problemas e pouca entrega concreta.
As justificativas continuam as mesmas:

“Herdamos dívidas.”
“Estamos cortando gastos.”
“Estamos colocando a casa em ordem.”

Mas, nas ruas, a realidade é bem diferente.
O centro da cidade continua sujo, com lixo acumulado e presença constante de usuários de drogas, assustando comerciantes e moradores.
As obras da Avenida do CPA, mesmo após cobrança do Tribunal de Contas do Estado (TCE), seguem lentas, causando engarrafamentos e transtornos diários à população.
A sensação é de abandono — de uma cidade que anda devagar, enquanto o discurso político corre solto.

A voz das ruas

Para entender como a população vê essa situação, o MT Urgente conversou com o eleitor Marcelo, morador de Cuiabá, que acompanha de perto o noticiário político da capital.
Em tom de desabafo, ele resumiu o sentimento de muitos cuiabanos:

“Parece que os vereadores estão mais preocupados com o TikTok e o Instagram do que com o trabalho de verdade. É vídeo pra lá, dancinha pra cá, e o povo aqui fora esperando solução. A gente precisa de ação, não de curtida.”

O depoimento de Marcelo traduz o que boa parte dos eleitores tem percebido: a política se transformou em palco digital, e os problemas reais da cidade seguem sem solução.

Entre o ruído e a reconstrução

É importante destacar que existem vereadores sérios e comprometidos, e a atual presidente, Paula Calil, tem tentado resgatar o equilíbrio, cobrar da Prefeitura e aproximar a Câmara da sociedade.
Mas o barulho das brigas e o uso político das redes sociais ainda ofuscam o trabalho de quem realmente quer fazer diferente.

Cuiabá precisa de união e ação.
Enquanto os representantes trocam farpas, a cidade espera limpeza, segurança, saúde eficiente, transporte de qualidade e planejamento urbano real.
E isso só será possível quando o Legislativo e o Executivo entenderem que o cidadão não vive de discurso — vive de resultado.

Hora de parar de culpar e começar a agir

A capital vive um momento que exige reconstrução e responsabilidade coletiva, não disputa de narrativa.
O passado já cobrou seu preço.
Agora é hora de olhar pra frente — com planejamento, diálogo e compromisso com quem mais precisa: a população.

A pergunta que não quer calar é direta:
👉 O vereador em quem você votou está trabalhando por Cuiabá ou apenas para alimentar suas redes sociais?

Com as eleições de 2026 se aproximando, muitos que estiveram em silêncio logo voltarão aos holofotes, com promessas e vídeos bem produzidos.
Mas Cuiabá não precisa de atores — precisa de ação.

Se a Câmara quer deixar de ser lembrada como “Casa dos Horrores”, precisa voltar a ser a Casa do Povo, onde o respeito, o trabalho e a seriedade voltem a ocupar o lugar das brigas, das vaidades e dos discursos vazios.

🖋️ Por Alex Rabelo — jornalista e analista político
MT Urgente News / 2025