O número de pessoas monitoradas por tornozeleira eletrônica em Mato Grosso aumentou 1.305% nos últimos 11 anos. De acordo com dados do Plano Estadual de Pena Justa, em 2014 eram 511 monitorados; atualmente, o número já chega a 7.184.
Com o crescimento da demanda, surgiu também um novo e ilegal “serviço”: o aluguel de tornozeleiras. Os valores cobrados variam entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil mensais, mas já foram registrados casos em que o “negócio” alcançou até R$ 19 mil por mês.
Como funciona o esquema
Segundo fontes ligadas às investigações, criminosos contumazes e integrantes de facções criminosas retiram a tornozeleira e a transferem para uma segunda pessoa. Essa “substituição” garante ao monitorado a possibilidade de circular livremente sem chamar a atenção da fiscalização.
Quem aceita “emprestar” a perna para usar o equipamento recebe pagamento pelo “favor”. Essa prática pode configurar crimes como fraude processual e integração a organização criminosa.
O caso do “cuidador de tornozeleira”
Um dos episódios mais emblemáticos ocorreu em 2024, quando a Polícia deflagrou a segunda fase da operação Apito Final. Na ocasião, Jeferson da Silva Sancoviche, conhecido como “Japão”, foi preso. Ele recebia R$ 19 mil mensais para ser o “cuidador” da tornozeleira que deveria estar no tornozelo de Paulo Witer Faria Paelo, o WT, tesoureiro da facção Comando Vermelho (CV).
Jeferson aparecia formalmente como proprietário de um apartamento de luxo em Cuiabá, mas quem realmente vivia no imóvel era WT. Horas após a prisão do tesoureiro, ele foi flagrado deixando o local com uma sacola contendo diversos objetos, entre eles a tornozeleira.
Ainda conforme as investigações, o equipamento era levado até o bairro Jardim Florianópolis, em Cuiabá, quando WT viajava para o litoral de Santa Catarina e do Rio de Janeiro.
Operação mais recente
Em 9 de agosto de 2025, a operação Desterro da Polícia Civil revelou mais um caso semelhante. A ação teve como alvo membros de uma facção investigada pelo desaparecimento de cinco maranhenses em Várzea Grande. Foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão, com foco em celulares e equipamentos eletrônicos que possam esclarecer autoria e participação no crime.
Durante a operação, duas pessoas foram presas em flagrante: uma por porte ilegal de arma de fogo e outra por fraude processual. Esta última usava a tornozeleira de um dos investigados e recebia mensalmente para manter o equipamento em seu corpo.














