Enquanto todas as capitais brasileiras receberam luzes, praças temáticas, árvores gigantes e programação especial para o Natal, Cuiabá viveu o dezembro mais apagado de sua história recente. A capital mato-grossense foi a única do país que não apresentou qualquer decoração natalina em espaços públicos neste ano, segundo levantamento do g1.
Nas ruas, nem árvore, nem luzes, nem casa do Papai Noel.
O que se vê são enfeites de iniciativa privada — shoppings, lojas e condomínios.
E a pergunta inevitável que ecoa entre moradores é:
por que Cuiabá não conseguiu decorar sequer uma praça?
Prefeitura cita custos, reorganização e falta de recursos
Em nota, a gestão de Abílio Brunini (PL) afirmou que 2025 foi um ano dedicado a “reorganizar as contas públicas” e a estruturar administrativamente o município. Por isso, decidiu priorizar áreas estratégicas e não destinou orçamento para celebrações ou iluminação natalina.
A única ação ligada ao período é a carreta do Papai Noel, realizada em parceria com um banco privado, que percorre bairros mais distantes — uma iniciativa modesta diante do que outras capitais exibiram.
Crises financeiras, decretos e cortes ajudam a explicar o cenário
A alegação de falta de recursos não é novidade.
Desde janeiro deste ano, três dias após assumir, o prefeito decretou calamidade financeira, afirmando que a situação da cidade era insustentável. O decreto perdeu validade, mas o discurso continuou o mesmo ao longo do ano.
Mesmo com a economia medida pela prefeitura — R$ 217 milhões após revisão de contratos — o município ainda enfrenta:
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dificuldade de manter caixa,
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baixa capacidade de investimentos,
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risco de novo decreto de calamidade,
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e alta pressão sobre serviços essenciais.
O Índice Firjan de Gestão Fiscal, que analisou dados de 2024, colocou Cuiabá no último lugar entre todas as capitais brasileiras, apontando fragilidade extrema na capacidade de investimento e gestão de recursos.
Ao mesmo tempo, a dívida consolidada do município consome 62,2% da receita líquida, segundo dados oficiais.
Mesmo assim, a prefeitura afirma que deve terminar o ano com superávit de R$ 422 milhões, superando a previsão anterior de déficit.
O contraste entre austeridade, cortes e superávit também alimenta questionamentos.
Enquanto isso, interior de Mato Grosso brilhou no Natal
Ao contrário da capital, municípios como Várzea Grande, Rondonópolis, Sorriso, Sinop e Cáceres montaram estruturas completas, com árvores gigantes, túneis iluminados, programação festiva e decoração tradicional nas praças.
A comparação tornou Cuiabá ainda mais alvo de críticas, principalmente nas redes sociais, onde moradores questionam a falta de planejamento e a ausência de algo simples que pudesse trazer acolhimento às famílias.
Faltou dinheiro, reorganização ou planejamento?
A justificativa oficial aponta para custo, despesas, ajustes e ausência de recursos.
Mas especialistas em gestão pública lembram que:
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decorações podem ser feitas com baixo orçamento;
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parcerias com empresas são comuns em outras capitais;
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e o planejamento precisa ser antecipado, o que não ocorreu.
Assim, a ausência total da decoração reacende um debate maior:
Cuiabá é vítima apenas das contas públicas ou também da falta de planejamento?
Independentemente da resposta, o fato concreto é que, em 2025, a “cidade verde” passou pelo Natal mais cinzento do país — o único sem brilho, sem luzes e sem espaços públicos preparados para a população.














