A possível desativação da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá escancara um cenário preocupante: mais uma vez, uma das instituições mais tradicionais da saúde pública corre o risco de fechar as portas — e a pergunta que fica é: quem vai assumir a responsabilidade?
Com mais de 200 mil atendimentos por ano, a Santa Casa não é apenas um hospital. É referência para pacientes do interior, esperança para famílias sem recursos, e um símbolo de atendimento humanizado e acessível em Mato Grosso. Desde 2019, a gestão da unidade foi assumida pelo Governo do Estado sob o argumento de calamidade pública, mas agora, com a inauguração do Hospital Central prevista para setembro, a Santa Casa pode simplesmente ser desativada.
A justificativa? Um aluguel de R$ 400 mil, considerado elevado pela atual gestão estadual. Mas especialistas, médicos e a população questionam: será que o problema é mesmo o valor do aluguel ou a falta de vontade política?
“Não podemos aceitar que o hospital seja tratado como um prédio qualquer. É uma casa de saúde, com história, com alma. Fechá-la é virar as costas para milhares de mato-grossenses que não têm para onde correr”, desabafa o médico Paulo Figueiredo, que há 52 anos trabalha na unidade.
Além do impacto direto no atendimento, o possível fechamento pode deixar centenas de profissionais da saúde desempregados e agravar ainda mais a superlotação em outros hospitais da Capital. Equipamentos novos instalados na Santa Casa também podem ser retirados, reduzindo ainda mais as chances de continuidade da instituição.
Em 2019, uma fundação ligada aos padres camilianos chegou a demonstrar interesse em assumir a gestão da Santa Casa e quitar os passivos, que hoje ultrapassam R$ 300 milhões. No entanto, sem diálogo suficiente, o Estado decidiu assumir a unidade por requisição administrativa, sem arcar com as dívidas — que seguem crescendo.
Agora, quatro anos depois, o cenário é de incerteza total.
“A Santa Casa só não vai fechar se alguém assumir as dívidas e a gestão. E para isso, o Estado precisa deixar os equipamentos e abrir diálogo com quem realmente quer salvar essa história”, reforça Figueiredo.
Enquanto deputados, médicos e parte da sociedade se mobilizam para evitar o fechamento, a Santa Casa, seus pacientes e seus funcionários vivem dias de angústia e silêncio. E o que se pergunta é: por que deixar uma instituição com tanto valor histórico, social e humano chegar a esse ponto?
Fechar a Santa Casa é mais do que encerrar atividades: é desligar um pedaço da história da saúde pública mato-grossense.