Cuiabá convive há mais de uma década com um cenário de abandono em uma das áreas mais históricas da cidade. O Largo do Rosário, conhecido popularmente como Ilha da Banana, localizado em frente à Igreja do Rosário, no Centro, deveria ter se transformado em uma estação do VLT, mas hoje expõe uma realidade de descuido e insegurança.
O espaço, que já foi moradia de famílias e até ponto de extração de ouro, se transformou em um cartão-postal negativo da capital: lixo espalhado, construções abandonadas, tapumes derrubados e restos de queimadas fazem parte do dia a dia da região. Além da degradação urbana, moradores e comerciantes reclamam do risco à segurança, já que o local se tornou ponto de usuários de drogas e pessoas em situação de rua.
Mais de uma década de promessas
A desapropriação ocorreu em 2012, quando 12 famílias foram retiradas para dar lugar à estação do VLT. O projeto foi cancelado, o contrato rescindido em 2017 e parte da estrutura demolida em 2020. Desde então, nada foi feito de forma efetiva.
Hoje, apenas duas famílias resistem no local. Uma delas é a de José Carlos, 78 anos, que mantém uma pequena venda e permanece na propriedade da família, localizada ali desde 1968. Ele relata que recebeu o aviso da desapropriação por um papel colocado sob sua porta e que até hoje não recebeu indenização justa.
“Já deveria ter me mudado, tenho outra casa. Mas se eu sair, invadem. Então prefiro ficar aqui”, disse.
Risco e abandono diário
Durante o dia, José Carlos ainda circula pelo entorno, mas à noite evita sair de casa. “Ninguém anda aqui de noite. É perigoso demais. Só passa de carro, táxi ou moto. A gente convive com usuários de drogas e tudo fica deserto”, relatou.
A falta de manutenção agrava ainda mais o cenário: vegetação sem controle, lixo acumulado e ausência de iluminação adequada reforçam a sensação de insegurança.
O que está previsto?
Segundo a Sinfra, o espaço será transformado em uma espécie de praça integrada ao projeto do BRT (Bus Rapid Transit). A ideia é que a avenida em frente à Igreja do Rosário seja fechada para veículos, concentrando o tráfego ao lado do Morro da Luz, enquanto o trecho liberado se tornaria um centro de convivência.
No entanto, ainda não há prazos definidos. A previsão é de que as obras só comecem em 2026, mantendo até lá a área no mesmo estado de abandono. Questionada, a Sinfra não apresentou planos imediatos de limpeza, manutenção ou segurança no local.
Um retrato do descaso
Mais de 10 anos após a desapropriação, o que deveria ser um espaço moderno e revitalizado tornou-se um símbolo de descaso do poder público, que coleciona promessas não cumpridas. O que resta é a indignação dos moradores, que convivem com um cenário de ruínas e insegurança bem no coração de Cuiabá.














