Um levantamento realizado pelo Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), concluiu que Mato Grosso será o estado brasileiro com maior ganho econômico diante do atual cenário de guerra tarifária entre Estados Unidos e China.
De acordo com a análise, o impacto positivo para Mato Grosso é estimado em R$ 5,3 bilhões, puxado principalmente pela cadeia produtiva da soja. O setor agropecuário nacional, de maneira geral, será o mais beneficiado, com ganhos que podem alcançar US$ 5,5 bilhões. Por outro lado, o setor industrial tende a registrar perdas, estimadas em US$ 8,8 milhões.
PIB global em queda, mas Mato Grosso avança
As simulações apontam que, caso as medidas de taxações recíprocas se mantenham, o PIB global deve cair 0,25%, o equivalente a uma retração de US$ 205 bilhões. O comércio internacional também seria afetado, com uma possível redução de 2,38% (US$ 502 bilhões).
Nos Estados Unidos, o PIB teria uma queda de 0,7%, enquanto na China a retração seria de 0,6%. No Brasil, ao contrário, haveria um ligeiro incremento de 0,01% no PIB nacional, alavancado pelo aumento das exportações de commodities e pela redução nos preços das importações.
Centro-Oeste lidera os ganhos
A projeção mostra que os estados do Centro-Oeste seriam os maiores beneficiados com a reconfiguração do comércio global, tendo em vista sua forte base de produção agropecuária. Mato Grosso lidera esse movimento, à frente de Goiás, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
Segundo o presidente da Aprosoja-MT e vice-presidente da Aprosoja Brasil, Lucas Costa Beber, o Brasil pode ampliar consideravelmente sua participação no mercado chinês, que já responde por 52% das exportações de soja brasileiras.
— “Com a guerra comercial em andamento, a participação do Brasil pode crescer ainda mais. Há um espaço real para ampliar o fornecimento e ocupar mercados antes dominados pelos EUA”, afirmou.
Pecuária também pode avançar
Além da soja, o setor da pecuária brasileira também pode se beneficiar com a disputa tarifária, conforme destacou o CEO do grupo Raça Agro, João Antônio Fagundes.
— “O tarifaço pode abrir portas para a carne brasileira em mercados que historicamente são abastecidos pelos Estados Unidos. O Brasil tem qualidade, escala e agora pode ter oportunidade”, afirmou.
Metodologia e simulações
Os dados da pesquisa foram baseados em simulações realizadas entre os dias 7 e 11 de abril de 2025. Os pesquisadores utilizaram um modelo de Equilíbrio Geral Computável (EGC) global, interligado a um modelo inter-regional, considerando os seguintes cenários:
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Elevação das tarifas dos EUA sobre importações chinesas para até 145%
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Taxação de 10% para importações de outros países
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Aumento para 25% nas tarifas de automóveis e aço importados pelos EUA
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Retaliação da China com tarifas de até 125% sobre produtos norte-americanos
Apesar da previsão de retração global, o estudo aponta que o Brasil — especialmente Mato Grosso — pode sair fortalecido no curto e médio prazo, ocupando espaços no comércio global antes dominados pelas duas maiores potências do planeta.
📌 Resumo dos principais dados:
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PIB global: -0,25% (US$ 205 bilhões)
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Comércio internacional: -2,38% (US$ 502 bilhões)
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PIB dos EUA: -0,7%
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PIB da China: -0,6%
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PIB do Brasil: +0,01%
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Ganho do agro brasileiro: US$ 5,5 bilhões
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Ganho de Mato Grosso: R$ 5,3 bilhões
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Perda na indústria nacional: US$ 8,8 milhões