Por Alex Rabelo Jornalista e Analista Politico
Mato Grosso convive, ano após ano, com números alarmantes de violência contra a mulher. São mães assassinadas, lares destruídos e crianças que, de um dia para o outro, perdem o chão. Diante dessa realidade dolorosa — conhecida por toda a sociedade — o deputado estadual Gilberto Cattani (PL) apresentou um dos projetos mais sensíveis e importantes da atual legislatura: a criação do Programa Estadual de Proteção e Assistência a Crianças e Adolescentes Órfãos de Feminicídio e Outras Violências.
Não se trata apenas de um projeto.
É uma lei que nasce da dor mais profunda que um pai pode experimentar.
A proposta foi batizada de Lei Raquel Maziero Cattani, em homenagem à filha do deputado, assassinada brutalmente em julho de 2024. O crime deixou dois filhos pequenos — netos de Cattani — completamente desamparados. Foi essa ausência de apoio que fez o parlamentar transformar o luto em ação.
“Enquanto os assassinos recebiam assistência, meus netos ficaram sem nada”, diz Cattani
Em sua fala ao protocolar o projeto, o deputado emocionou a Assembleia e a todos que acompanham o caso:
“Os assassinos da minha filha recebem do Estado o melhor atendimento médico, psicólogo, alimentação e até assistência jurídica.
Meus netos, que perderam a mãe de forma cruel, não receberam nenhum apoio.
Essa lei nasce para corrigir essa injustiça e proteger quem fica.”
A fala de Cattani ecoa a realidade de muitas famílias: crianças que, após o feminicídio, são deixadas no luto, no trauma e na completa vulnerabilidade. O Estado costuma enxergar apenas a vítima fatal — mas esquece dos órfãos que, silenciosamente, carregam uma dor que acompanhará toda a vida.
Uma lei que quer romper esse ciclo de abandono
O programa proposto por Cattani é amplo, moderno e estruturado. Ele cria uma rede permanente de proteção, capaz de acompanhar cada criança desde o momento do crime até sua plena recuperação emocional e social.
Veja como o programa vai funcionar:
🔹 Assistência psicológica contínua
Atendimento especializado para tratar traumas, ansiedade, estresse pós-traumático, luto e sentimentos de abandono.
🔹 Apoio social estruturado
Acompanhamento de assistentes sociais, visitas domiciliares, avaliação da situação familiar e inserção em programas sociais.
🔹 Garantia de continuidade escolar
Apoio pedagógico, monitoramento do desempenho escolar e acesso a atividades complementares.
🔹 Proteção interinstitucional
Rede de atuação conjunta envolvendo:
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Conselhos Tutelares
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Ministério Público
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Defensoria Pública
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Secretarias municipais e estaduais
🔹 Auxílio familiar
Os responsáveis legais poderão receber orientação, suporte emocional e encaminhamentos necessários.
O programa será financiado por recursos orçamentários do próprio Estado, garantindo permanência e funcionamento contínuo.
A grandeza desta lei: proteger quem mais sofre, mas menos é visto
Enquanto a sociedade debate feminicídio, quase ninguém fala sobre os órfãos do feminicídio.
Crianças que:
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presenciam a violência
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perdem suas mães
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mudam de lar
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enfrentam traumas profundos
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são criadas por avós emocionalmente destruídos
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ficam sem apoio psicológico
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e, muitas vezes, invisíveis ao poder público
A lei proposta por Cattani joga luz sobre essa realidade e cria um amparo que pode mudar destinos e salvar vidas.
É uma das raras propostas legislativas que unem:
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relevância social
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responsabilidade pública
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impacto emocional
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legado permanente
E que nasce diretamente da experiência de quem viveu essa dor no próprio corpo e na própria casa.
Cattani: da tragédia pessoal ao compromisso com outras famílias
A iniciativa do deputado tem sensibilizado colegas parlamentares e profissionais da área social. Especialistas afirmam que o projeto pode colocar Mato Grosso como referência nacional no atendimento a órfãos de feminicídio — um público que sempre existiu, mas nunca teve políticas públicas claras.
A lei, se aprovada, promete:
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acolher crianças abandonadas após crimes violentos
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amparar famílias que assumem a responsabilidade da criação
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evitar que traumas se transformem em problemas sociais futuros
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restaurar parte da dignidade de quem foi brutalmente ferido
A proposta agora segue para análise das comissões da ALMT antes da votação em plenário.
Uma lei que nasce de uma ferida, mas que promete curar muitas
A violência contra a mulher é uma chaga aberta no país.
Mas, pela primeira vez, um projeto reconhece que a violência não termina no feminicídio — ela continua viva na dor dos filhos.
A Lei Raquel Maziero Cattani é, ao mesmo tempo:
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uma homenagem,
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um pedido de justiça,
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um ato de amor,
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e um compromisso público de que nenhuma criança ficará sozinha após perder sua mãe para a violência.














