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“O lado obscuro da política: por que prefeitos e vices quase nunca permanecem aliados?”

A relação entre prefeitos e vices em Cuiabá, ao longo da história, tem sido marcada por rachas, disputas de poder e desconfiança política. O que deveria ser uma parceria administrativa acaba, em muitos casos, se transformando em um jogo de interesses eleitorais.

Na prática, os primeiros mandatos concentram os maiores atritos. Isso ocorre porque os vices são frequentemente vistos como “ameaças veladas”, potenciais concorrentes na reeleição do titular. Daí nascem episódios de fogo amigo, articulações na Câmara, CPIs, denúncias e até tentativas de cassação. Há décadas, o jargão político resume esse dilema: “vice só manda quando o titular morre”.

Em Cuiabá, essa máxima se confirmou em diversos momentos da política recente.

O cenário atual: Abilio Brunini x Coronel Vânia Rosa

O mais novo capítulo dessa tradição envolve o prefeito Abilio Brunini (PL) e sua vice, Coronel Vânia Rosa (Novo).

A relação, já desgastada desde o início da gestão, se agravou após Vânia deixar a Secretaria de Assistência Social e, mais recentemente, ser exonerada da Secretaria de Mobilidade Urbana. O estopim veio depois que a vice foi convocada a prestar esclarecimentos na Câmara de Cuiabá, ocasião em que denunciou estar sofrendo violência política de gênero.

O episódio gerou reação negativa entre os parlamentares e acelerou o rompimento definitivo com o prefeito. Pouco tempo depois, Abilio autorizou uma fiscalização em plena manhã de sábado na Semob, alegando suspeitas sobre o uso da estrutura da pasta. Para aliados da vice, a ação teve caráter político e serviu apenas para aumentar o desgaste público entre os dois.

Conflitos do passado: quando a história se repete

🔹 Roberto França e Roberto Nunes (1996)
Eleito prefeito com apoio do governador Dante de Oliveira, Roberto França teve como vice o deputado Roberto Nunes. Nos bastidores, o acordo era de dividir responsabilidades administrativas. Porém, Nunes optou por continuar na Assembleia Legislativa, rompendo a aliança logo no início da gestão.

🔹 Mauro Mendes e João Malheiros (2012)
Em sua primeira vitória eleitoral, Mauro Mendes enfrentou atritos com o vice João Malheiros, indicado por Blairo Maggi. O impasse sobre cargos na gestão levou Malheiros a não assumir efetivamente a função. Mendes iniciou a administração sem vice, lidando com crises políticas na Câmara logo nos primeiros meses.

🔹 Emanuel Pinheiro e Niuan Ribeiro (2016–2020)
Sem espaço na gestão, Niuan passou a criticar publicamente Emanuel Pinheiro, que retaliou exonerando cargos ligados à vice-prefeitura. O embate foi parar na Justiça. Em 2020, Niuan ensaiou uma pré-candidatura à Prefeitura, mas acabou desistindo e apoiando Abilio Brunini.

O padrão político: vice como peça descartável

Esses casos mostram que, em Cuiabá, a função de vice tem se tornado, ao longo dos anos, uma peça de difícil encaixe no tabuleiro político. No primeiro mandato, os vices são vistos como concorrentes em potencial; no segundo, herdam os desgastes acumulados da gestão e raramente conseguem projeção para suceder o titular.

Não por acaso, a escolha do vice costuma ser feita nos 45 do segundo tempo, muitas vezes no dia da convenção partidária. Quanto menos tempo exposto, menor o risco de desgaste ou de virar adversário dentro da própria chapa.

O que está em jogo

A crise entre Abilio e Vânia não é um ponto isolado, mas parte de uma tradição política da Baixada Cuiabana, em que a instabilidade entre prefeitos e vices se repete gestão após gestão.

Mais do que disputas pessoais, o histórico revela um problema estrutural: a fragilidade da figura do vice-prefeito no sistema político brasileiro, muitas vezes usada apenas como moeda de troca em alianças eleitorais. O resultado é a falta de harmonia administrativa e, em muitos casos, o prejuízo direto para a população, que vê disputas internas sobreporem-se às demandas da cidade.

Três crises entre prefeitos e vices que marcaram Cuiabá

  • Roberto França x Roberto Nunes (1996) – Vice preferiu ficar na Assembleia e nunca assumiu o cargo.

  • Mauro Mendes x João Malheiros (2012) – Divergências sobre cargos afastaram vice da gestão logo no início.

  • Emanuel Pinheiro x Niuan Ribeiro (2016–2020) – Vice sem espaço virou crítico da administração e acabou rompendo politicamente.

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Cuiabá-MT 15.12.2025 03:44

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