Esquema criminoso infiltrava fazendas, falsificava documentos e desviava grãos em larga escala
A manhã desta terça-feira (24) marcou mais um capítulo de uma das maiores investigações contra o crime organizado no setor do agronegócio em Mato Grosso. A Polícia Civil, por meio da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO), deflagrou a terceira fase da Operação Safra, com foco em desmontar um grupo especializado no furto e desvio de cargas de grãos, especialmente soja e milho.
O prejuízo já ultrapassa R$ 20 milhões.
Ao todo, foram 63 ordens judiciais cumpridas nas cidades de Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sapezal, Tangará da Serra e Cuiabá, incluindo:
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19 mandados de busca e apreensão
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22 bloqueios de contas bancárias
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5 indisponibilidades de imóveis
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17 bloqueios de veículos
As ordens foram expedidas pela 5ª Vara Criminal de Sinop, com base em provas levantadas nas fases anteriores da operação.
O esquema: roubo com crachá
O grupo criminoso se infiltrava nas próprias fazendas. Funcionários de confiança, como balanceiros, gerentes e operadores de carga, eram aliciados para liberar caminhões sem nota fiscal ou qualquer registro oficial. O grão era retirado diretamente dos silos — à luz do dia — sem levantar suspeita.
Depois, as cargas seguiam para empresas já investigadas em Cuiabá, onde eram “esquentadas” com notas frias. A operação envolvia ainda núcleos de falsificação documental e lavagem de dinheiro.
“Era uma logística bem estruturada, com divisão de tarefas e uso de tecnologia para burlar controles. Um crime de alto impacto”, explicou o delegado Gustavo Belão.
Impacto bilionário disfarçado
Só nesta fase, os investigadores estimam R$ 4,5 milhões em prejuízo direto. Mas o rombo real pode ser muito maior. “Grande parte das cargas furtadas não era registrada, o que dificulta mensurar o dano total”, acrescentou Belão.
Nas fases anteriores, foram identificadas mais de 152 cargas desviadas, com mais de 6 milhões de quilos de grãos furtados e R$ 16,3 milhões em perdas a transportadoras e seguradoras.
Ao somar os valores, a operação já revelou danos acima de R$ 20 milhões para o agronegócio — um dos setores mais estratégicos da economia mato-grossense.
O agronegócio na mira do crime
A Operação Safra 1 foi deflagrada em 2021, desarticulando um grupo baseado em São Paulo. Em 2022, veio a fase 2, que aprofundou as conexões regionais e a atuação nos bastidores logísticos do Estado.
Agora, a fase 3 mira diretamente nos beneficiários financeiros dos crimes e no confisco de bens adquiridos com o lucro ilícito. Casas, caminhões e contas recheadas estão na mira da Justiça.
Quem perde é o produtor, o consumidor e o Estado
Mais do que uma fraude milionária, a Operação Safra expõe como a cadeia produtiva do agronegócio está vulnerável a fraudes internas. O crime se profissionalizou, e o prejuízo recai sobre quem planta, colhe, transporta e consome.
🚨 O recado é claro: o agronegócio precisa blindar seus bastidores. Monitoramento, auditoria e segurança são tão estratégicos quanto tecnologia no campo.














