Uso prolongado pode causar deficiência de nutrientes e outros efeitos colaterais; médicos explicam quando o remédio é necessário e quando é melhor evitá-lo
Durante anos, o omeprazol foi considerado o famoso “protetor do estômago” — aquele comprimido tomado toda manhã, muitas vezes sem nem precisar de receita. Mas, recentemente, os médicos começaram a rever seu uso e descobriram que o remédio, quando usado por muito tempo, pode trazer riscos à saúde.
O que é o omeprazol e por que ele preocupa
O omeprazol pertence ao grupo dos inibidores da bomba de prótons (IBPs) — medicamentos que reduzem a acidez do estômago. Nessa mesma classe estão outros como o pantoprazol, esomeprazol e lansoprazol.
Eles revolucionaram o tratamento de gastrite, úlcera e refluxo, mas com o tempo o uso acabou se tornando exagerado e sem controle.
“O problema é que o remédio saiu do consultório e entrou na rotina. Muita gente começou a usar e nunca mais parou”, explica o oncologista Raphael Brandão, diretor da Clínica First.
Segundo os especialistas, o uso contínuo sem acompanhamento pode prejudicar a absorção de nutrientes importantes, como ferro, magnésio, cálcio e vitamina B12, aumentando o risco de anemia, cansaço, câimbras e enfraquecimento dos ossos.
Além disso, o uso prolongado pode favorecer infecções intestinais, aumentar a chance de doenças renais e até provocar desequilíbrio na flora intestinal.
Quando o omeprazol é realmente necessário
Mesmo com os alertas, o remédio ainda é fundamental em muitos casos. Ele continua sendo indicado para quem tem:
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refluxo gastroesofágico;
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gastrite e úlcera;
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infecção por Helicobacter pylori;
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e pacientes que precisam de proteção gástrica por uso contínuo de anti-inflamatórios.
“O omeprazol é eficaz e de baixo custo. O que precisa mudar é a forma de uso: ele deve ser prescrito pelo tempo certo e sempre com acompanhamento médico”, explica a gastroenterologista Débora Poli, do Hospital Sírio-Libanês.
Em casos mais graves, como esôfago de Barrett ou esofagite eosinofílica, o uso contínuo é indispensável — mas precisa de acompanhamento regular.
Quando dá para substituir ou reduzir o uso
Nem todo paciente precisa continuar tomando o omeprazol por longos períodos. Para quem tem sintomas leves ou refluxo ocasional, há opções mais seguras:
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Bloqueadores H2, como a famotidina, que são menos potentes, mas causam menos efeitos a longo prazo;
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Uso sob demanda, apenas quando houver sintomas;
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Ou ainda os novos bloqueadores de potássio (P-CABs), como a vonoprazana, que agem rápido e têm efeito prolongado — embora ainda sejam caros e pouco disponíveis no Brasil.
“Em muitos casos, reduzir a dose ou mudar o tipo de remédio já é suficiente”, destaca Brandão.
A decisão sobre interromper ou substituir o tratamento deve sempre ser feita com orientação médica.
Mudanças de hábitos ajudam tanto quanto o remédio
Os especialistas também lembram que muitos casos de refluxo e azia podem ser controlados com mudanças no estilo de vida.
Entre as recomendações estão:
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Evitar deitar logo após comer;
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Perder peso, se necessário;
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Reduzir o consumo de álcool, frituras, chocolates e alimentos ultraprocessados;
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E levantar a cabeceira da cama durante o sono.
“Comer devagar, mastigar bem e manter horários regulares de refeição pode ser tão eficaz quanto o remédio em casos leves”, orienta Poli.
Um novo olhar sobre um velho conhecido
A decisão de cortar o omeprazol das receitas não é uma “proibição”, e sim uma tentativa de corrigir o uso excessivo.
“O omeprazol foi um grande avanço da medicina, mas, como qualquer medicamento, precisa de indicação, tempo e acompanhamento”, resume a gastroenterologista Karoline Soares Garcia, da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
Em resumo: o omeprazol não é vilão, mas também não é inofensivo. Usado da forma certa, ele protege o estômago. Usado em excesso, pode virar um risco silencioso.














