O primeiro ano do prefeito Abilio Brunini (PL) à frente da Prefeitura de Cuiabá foi marcado por uma gestão de ruptura com o modelo anterior, guiada por um discurso permanente de crise financeira herdada, cortes de gastos, reorganização da máquina pública e decisões que provocaram forte reação popular, política e institucional ao longo de 2025.
Desde a posse, em janeiro, Abilio deixou claro que adotaria uma administração de confronto, tanto com estruturas internas da prefeitura quanto com setores externos, como universidades, concessionárias, sindicatos e até aliados políticos. A narrativa central do governo foi a de que Cuiabá estaria “quebrada”, o que justificaria medidas duras, mudanças abruptas e revisões de políticas públicas consolidadas.
Posse, orçamento robusto e o discurso da crise
Abilio assumiu a prefeitura com um orçamento de R$ 5,4 bilhões para 2025, o maior da história de Cuiabá, valor que, paradoxalmente, não impediu o prefeito de afirmar, logo nos primeiros dias, que o município enfrentava um cenário de desequilíbrio financeiro severo, especialmente nas áreas de Saúde e Educação.

Ainda em janeiro, o prefeito passou a defender publicamente a necessidade de cortes, revisão de contratos e contenção de despesas, ao mesmo tempo em que prometia manter serviços essenciais e honrar compromissos básicos, como salários e benefícios.
Primeiros 100 dias: ações visíveis e resposta imediata
Para demonstrar capacidade de gestão e dar respostas rápidas à população, a administração apostou em ações de alto impacto visual.
Nos primeiros 100 dias, a prefeitura divulgou o recolhimento de cerca de 40 mil toneladas de lixo e a realização de mais de 6 mil operações de tapa-buracos, iniciativas amplamente exploradas como símbolo de retomada da zeladoria urbana.

Essas ações tiveram forte repercussão popular, principalmente por atingirem diretamente o cotidiano dos cuiabanos, e ajudaram a sustentar a narrativa de que a prefeitura estava “voltando a funcionar”, apesar da crise financeira alegada.
Fim da taxa de lixo: promessa cumprida e capital político
Um dos momentos de maior aprovação popular ocorreu quando Abilio formalizou a extinção da taxa de lixo para imóveis residenciais, uma das promessas centrais da campanha eleitoral.

A medida foi apresentada como um gesto de alívio financeiro às famílias e reforçou a imagem do prefeito como alguém disposto a rever cobranças impopulares, mesmo em um cenário de ajuste fiscal.
Educação no centro da crise fiscal
A área da Educação rapidamente se tornou um dos principais focos de desgaste do governo. Para garantir o pagamento do 1/3 de férias sobre os 45 dias de descanso dos professores, Abilio anunciou o remanejamento de R$ 4 milhões, retirando recursos previstos para reformas em escolas.
A decisão gerou forte reação de sindicatos, educadores e vereadores, que criticaram a escolha de sacrificar infraestrutura escolar para honrar um direito trabalhista. O episódio escancarou o dilema vivido pela gestão: falta de recursos para atender simultaneamente todas as demandas.
O prefeito chegou a discutir mudanças no modelo de pagamento, mas recuou diante da pressão política e social.
Saúde: déficit, alerta financeiro e mudanças estruturais
A Saúde foi apontada pelo próprio prefeito como o setor mais crítico da administração. Com um déficit projetado de R$ 120 milhões, Abilio decretou alerta financeiro, determinando a priorização de despesas essenciais.
Nesse contexto, defendeu uma mudança profunda no modelo de gestão hospitalar, propondo que o Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) e o Hospital São Benedito deixassem de ser geridos integralmente pelo município e passassem à responsabilidade do Estado. A proposta provocou debate intenso, por representar uma mudança estrutural no sistema de saúde da capital.
Ao mesmo tempo, a inauguração do Centro Médico Infantil Antonny Gabriel ganhou destaque por seu caráter simbólico: a unidade leva o nome de uma criança que morreu após falha no atendimento da rede pública, tornando-se um marco emocional e político da gestão.
Reforma administrativa e crise com a vice-prefeita
Em agosto, Abilio aprofundou a reestruturação da máquina pública ao fundir as secretarias de Educação, Esporte e Cultura, sob o argumento de economia de R$ 4 milhões. No mesmo período, transformou o IPDU em secretaria própria, reforçando a centralização de decisões estratégicas.

O mês também ficou marcado por um dos episódios mais explosivos do ano: a vistoria surpresa na Semob, onde o prefeito questionou a presença de uma maca de massagem. O episódio gerou atrito direto com a então secretária e vice-prefeita Vânia Rosa, que acabou exonerada da pasta.
O caso evoluiu para judicialização, com ação movida por declarações consideradas misóginas e difamatórias, aprofundando a crise política interna da gestão.
UFMT, reconhecimento facial e embates públicos
Outro momento de forte repercussão ocorreu quando Abilio criticou duramente a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirmando que a qualidade do ensino seria “uma bosta” e que a instituição estaria politizada. A fala gerou reação imediata da comunidade acadêmica e ampliou o desgaste do prefeito com setores educacionais.
No mesmo período, a prefeitura implantou o programa “Aluno Presente”, com câmeras de reconhecimento facial em 172 escolas municipais, medida que dividiu opiniões entre quem defendia mais segurança e quem alertava para riscos à privacidade de crianças e adolescentes.

CPI, centralização e disputas institucionais
Abilio também protagonizou embates institucionais ao comparecer à CPI da CS Mobi, levando documentos e denunciando suposto favorecimento à concessionária em gestões anteriores, e ao editar o decreto que centralizou nele a representação oficial do município, gerando críticas sobre autoritarismo e redução da autonomia de secretários.
POLÊMICAS
- Crise na Semob: Vistoria surpresa e exoneração da vice-prefeita.
- Ataque à UFMT: Fala ofensiva gerou revolta nacional.
- Poder: Decreto restringe representação oficial ao prefeito.
- Escolas: Facial em 172 unidades divide opiniões.
- CPI Mobi: Denúncia de favorecimento na gestão anterior.
- Justiça: Ações movidas pela defesa da vice-prefeita.
MEDIDAS POPULARES
- Taxa de Lixo: Fim da cobrança em imóveis residenciais.
- Zeladoria: 40 mil ton de lixo e 6 mil buracos tapados.
- TEA: Estacionamento garantido em todas as vagas PCD.
- Pix Docente: Bônus de R$ 200 pago via Pix.
- Saúde: Novo Centro Médico Infantil Antonny Gabriel.
- Obesidade: Tratamento gratuito (Cuiabá Mais Leve).
IMPACTO NO BOLSO DO CUIABANO
- Isenção de Lixo: Alívio direto no orçamento familiar.
- IPTU 2026: Reajuste travado entre 20% e 40%.
- Recursos: R$ 4M da Educação para férias de docentes.
- Déficit Saúde: Alerta financeiro expõe risco nos serviços.
- LOA 2026: Rombo de R$ 364 milhões e aperto fiscal.
- Metas: Exigência de +20% prod. no teletrabalho.
IPTU, teletrabalho e o futuro fiscal
No fim do ano, o foco voltou-se novamente às finanças. O prefeito anunciou travas para o reajuste do IPTU em 2026, com limites entre 20% e 40%, tentando conter desgaste popular diante da expectativa de aumento.

Também sancionou a lei que regulamenta o teletrabalho para servidores municipais, impondo metas de produtividade superiores às do regime presencial.
Por fim, enviou à Câmara a Lei Orçamentária Anual de 2026, prevendo um déficit de R$ 364 milhões, atribuído a dívidas herdadas, reforçando o discurso de que os efeitos da crise se estenderão pelos próximos anos.
Balanço do primeiro ano
O primeiro ano de Abilio Brunini foi caracterizado por uma gestão de alto impacto político, com decisões rápidas, comunicação direta e conflitos frequentes.
Entre medidas populares (como o fim da taxa de lixo) e escolhas duras (como cortes em reformas escolares e alerta financeiro na saúde), o prefeito encerra 2025 tendo imposto seu estilo à administração municipal.
É um governo que se construiu mais pelo choque do que pela conciliação, e que entra no segundo ano com desafios fiscais ainda profundos, relações institucionais tensionadas e uma cidade atenta aos próximos movimentos.














