O anúncio do presidente norte-americano Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre a importação da carne bovina brasileira gerou forte reação no mercado e pode mexer diretamente no bolso do consumidor.
O estado de Mato Grosso, maior produtor do país, com 34 milhões de cabeças de gado e responsável por cerca de 20% das exportações nacionais de carne bovina só no primeiro trimestre de 2025, deve sentir os maiores impactos da medida.
Efeito imediato: carne mais barata no mercado interno
De acordo com o economista Newton Giovanni, o tarifaço tende a aumentar a oferta de carne dentro do Brasil, já que os frigoríficos terão dificuldade para escoar parte da produção destinada ao mercado norte-americano.
Esse aumento de oferta pode provocar uma queda nos preços da carne bovina no curto prazo, o que deve aliviar a inflação dos alimentos.
“Diversos frigoríficos já cancelaram a compra de gado para o abate após o anúncio da tarifa. Isso significa mais carne disponível no mercado interno, e a tendência é de redução dos preços para o consumidor brasileiro”, explicou Giovanni.
A carne bovina tem baixo índice de elasticidade de consumo, ou seja, mesmo quando o preço varia, a população continua comprando. Por isso, uma eventual queda de preço tende a gerar forte impacto positivo no custo de vida.
Médio prazo: risco de prejuízos e perda de receita
Apesar do possível alívio imediato ao consumidor, os efeitos a médio prazo preocupam. Menos exportações significam queda de receita para os frigoríficos, redução da entrada de dólares no Brasil e impacto na balança comercial.
Os Estados Unidos respondem por cerca de 12% das exportações de carne bovina de Mato Grosso, mas são estratégicos porque compram cortes de alto valor agregado, que elevam a rentabilidade da indústria. Sem esse mercado, frigoríficos podem reduzir produção, gerar menos empregos e pressionar o setor pecuário.
Dependência da China e novos mercados
Atualmente, quase metade da carne exportada por Mato Grosso tem a China como destino. Essa concentração em poucos mercados torna o setor altamente vulnerável a decisões políticas externas.
O episódio, segundo Giovanni, serve de alerta:
“É uma lição para que o Brasil não dependa de poucos mercados. Quanto maior a diversificação, mais resiliente será o agro brasileiro a decisões unilaterais de líderes políticos”, destacou.
Nos últimos anos, o Brasil abriu 403 novos mercados para a carne bovina, incluindo o Japão, que até 2023 não comprava o produto nacional. Essa expansão pode ajudar a mitigar prejuízos e reduzir a dependência de grandes importadores, garantindo a competitividade do setor no longo prazo.
Impacto para os Estados Unidos
Se no Brasil o efeito pode ser de preços mais baixos, nos Estados Unidos a situação tende a ser inversa.
Com a redução da entrada da carne brasileira — considerada essencial para abastecer supermercados e redes de fast food norte-americanos —, a expectativa é de aumento nos preços da carne no mercado interno dos EUA, o que deve pressionar a inflação dos alimentos e afetar diretamente os consumidores.
Resumo do cenário
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Consumidor brasileiro: pode ter queda no preço da carne no curto prazo.
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Frigoríficos e pecuaristas: risco de prejuízo, queda nas exportações e possível redução de empregos.
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Economia nacional: menos dólares entram no país, prejudicando a balança comercial.
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Estados Unidos: devem enfrentar alta no preço da carne e pressão inflacionária.
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Futuro do setor: diversificação de mercados será fundamental para reduzir riscos e manter a competitividade do agro brasileiro.
👉 Essa combinação de impactos mostra que o tarifaço de Trump pode até beneficiar temporariamente o consumidor brasileiro, mas traz grandes desafios estruturais para a pecuária e a economia do país.














