Com a entrada em vigor do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros a partir de 6 de agosto, Mato Grosso pode perder cerca de R$ 648 milhões em seu Produto Interno Bruto (PIB). A estimativa é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apontou o estado como o 16º mais afetado do país, apesar do impacto expressivo nos principais setores exportadores locais.
A medida do governo norte-americano atinge diretamente cadeias estratégicas da economia mato-grossense, como alimentos, metalurgia e produção vegetal. Produtos como carne bovina congelada, ouro em formas brutas, sebo bovino e soja estão entre os mais prejudicados — juntos, eles representaram mais de 90% das exportações do estado aos EUA em 2024.
Mesmo com a retirada de quase 700 produtos da lista de sobretaxa por parte do presidente Donald Trump — como suco e polpa de laranja, combustíveis e aeronaves civis — itens como café, frutas e carnes continuam sendo taxados.
Indústria madeireira teme perdas em contratos e empregos
O setor industrial, especialmente o madeireiro, acompanha com apreensão os desdobramentos. Dados da UN Comtrade (ONU) revelam que o Brasil exportou US$ 1,62 bilhão em madeira e derivados para os EUA em 2024. Só Mato Grosso exportou US$ 67,7 milhões, dos quais US$ 12,2 milhões (18,8%) tiveram como destino o mercado norte-americano.
Em nota, o presidente do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira de Mato Grosso (Cipem), Ednei Blasius, alertou sobre os impactos diretos em produtos de maior valor agregado, como decks e pisos envernizados, feitos sob medida para os padrões dos EUA.
“Esse tipo de produto não encontra mercado alternativo com facilidade. A decisão unilateral compromete contratos em andamento, ameaça empregos e enfraquece a competitividade internacional do setor”, declarou Blasius.
Pecuária vê golpe na competitividade com tarifa acumulada de 76,4%
A pecuária também sofre os reflexos da medida. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirma que a nova tarifa, somada à já existente alíquota de 26,4%, impõe um custo que inviabiliza economicamente as exportações para os EUA.
Em 2024, os norte-americanos importaram 229 mil toneladas de carne bovina brasileira. A previsão para 2025 era de 400 mil toneladas. Agora, o setor teme uma retração abrupta.
“Estamos em diálogo com os importadores e com o governo em busca de uma solução diplomática. O ciclo pecuário americano está em seu menor nível em 80 anos. Precisamos preservar esse mercado e abrir novos canais de comércio internacional”, disse Perosa em nota.
Associações como Acrimat e Imac optaram por não se manifestar até o momento.
Agricultura teme acúmulo de estoque e pressão sobre preços
Embora soja, milho e seus subprodutos estejam fora da lista de produtos tarifados, o setor agrícola também pode ser impactado indiretamente. O motivo é a desorganização da cadeia da proteína animal, já que os farelos de soja e milho são base da alimentação de bovinos e aves — ambos agora taxados.
O presidente da Aprosoja-MT, Lucas Beber, alerta para o risco de acúmulo de estoque no mercado interno e consequente queda nos preços ao produtor. Ele também demonstra preocupação com possíveis sanções dos EUA contra fertilizantes russos, insumos fundamentais para o agronegócio brasileiro.
“O momento exige diplomacia, não confronto. O Brasil precisa dialogar com os EUA, independentemente de alinhamentos ideológicos. A maioria dos produtos afetados não terá destino alternativo no curto prazo”, avaliou Beber.
Comércio e serviços já sentem os reflexos da incerteza
Os efeitos indiretos da medida também preocupam o setor de comércio e serviços, especialmente nas regiões mais ligadas ao agronegócio e à indústria de exportação. A possível retração no comércio exterior pode reduzir a circulação de renda e afetar o consumo interno e o emprego.
“O tarifaço surge num cenário de carga tributária elevada, com aumento do IOF e a Selic em 15%. O setor depende da expectativa do consumidor e qualquer prolongamento desse cenário pode causar estagnação”, afirmou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL), Junior Macagnam.
Segundo ele, o aumento nos custos operacionais e a redução na margem de lucro são preocupações imediatas, além da possibilidade de perda no potencial de geração de empregos no estado.
Cenário exige diplomacia e medidas técnicas urgentes
Em todos os setores consultados, o apelo por diálogo e ação técnica se repete. A imprevisibilidade quanto à duração da tarifa e seus efeitos multiplicadores sobre o mercado interno elevam o nível de alerta entre empresários e associações.
A expectativa agora recai sobre ações diplomáticas do governo federal para tentar reverter ou suavizar as sanções comerciais impostas pelos EUA e buscar novos mercados, evitando o colapso de cadeias produtivas estratégicas para o Brasil — e em especial, para Mato Grosso.














