Mato Grosso se prepara para entrar na rota mundial de exploração de Terras Raras, minerais considerados estratégicos para o futuro da economia e da tecnologia global. A Agência Nacional de Mineração (ANM) recebeu 27 requerimentos de pesquisa e autorizações para exploração no estado. Os pedidos foram apresentados por seis empresas – duas delas com participação de investidores australianos – e quatro pessoas físicas.
As áreas em análise estão distribuídas em 10 municípios: Cuiabá, Santo Antônio do Leverger, Itiquira, Alto Garças, Guiratinga, Rosário Oeste, Cocalinho, Santa Terezinha, Guarantã do Norte e Colniza, cobrindo diferentes regiões do território mato-grossense.
O que são Terras Raras e por que são importantes?
As chamadas Terras Raras são um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para o avanço tecnológico. Eles estão presentes em aplicações do dia a dia e em setores de alta complexidade, como:
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Energia limpa: turbinas eólicas e painéis solares;
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Mobilidade elétrica: motores de carros híbridos e elétricos;
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Tecnologia de ponta: celulares, tablets, satélites, computadores e supercondutores;
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Medicina: aparelhos de ressonância magnética, lasers cirúrgicos e radioterapia;
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Indústria pesada: catalisadores para petróleo, automóveis e aviação;
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Defesa e segurança: sistemas de mísseis, radares, equipamentos militares e superímãs.
Apesar do nome, não são minerais raros em abundância, mas sim na forma de ocorrência. O problema está na extração e refino, já que aparecem em baixas concentrações e raramente em depósitos de exploração viável.
O domínio da China e o papel do Brasil
Hoje, a China concentra cerca de 90% da produção mundial de Terras Raras, especialmente no refino e no fornecimento de superímãs. Isso gera uma dependência global de um único fornecedor, fator que influencia diretamente as disputas comerciais e geopolíticas, principalmente com os Estados Unidos e a União Europeia.
O especialista em Recursos Minerais da ANM, Mathias Heider, destaca que o Brasil tem um papel estratégico a desempenhar:
“Com as potencialidades de Terras Raras nas argilas iônicas, o país tem tudo para conquistar protagonismo mundial, aproveitando inclusive o cenário de disputa entre China e Estados Unidos. O Brasil pode ser uma alternativa confiável no fornecimento global.”
Mato Grosso no centro da disputa mineral
Mato Grosso, já consolidado como potência agrícola, pode agora diversificar sua matriz econômica, tornando-se também protagonista na mineração de alta tecnologia. As áreas em análise ficam em regiões onde há forte presença de argilas e formações geológicas compatíveis com a ocorrência dos minerais.
Se confirmada a viabilidade, o estado poderá:
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Atrair investimentos internacionais;
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Criar novos polos industriais ligados à mineração e metalurgia;
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Geração de empregos diretos e indiretos em áreas técnicas e operacionais;
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Integrar-se a cadeias globais de produção de equipamentos de energia renovável, mobilidade elétrica e tecnologia digital.
Desafios para transformar potencial em realidade
Para transformar os requerimentos em projetos produtivos, será necessário enfrentar desafios importantes:
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Pesquisa geológica avançada, com investimentos públicos e privados;
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Tecnologias de extração e refino limpas, capazes de reduzir impactos ambientais, já que esse tipo de mineração costuma gerar resíduos tóxicos;
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Política nacional para minerais críticos, garantindo competitividade frente ao mercado internacional;
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Licenciamento ambiental ágil e responsável, assegurando equilíbrio entre desenvolvimento e preservação.
A ANM reforça que, atualmente, estados como Mato Grosso ainda não possuem projetos estruturados em estágio avançado, sendo essencial evoluir nas etapas de licenciamento e avaliação técnica (RFPs).
Janela de oportunidade para o Brasil
As Terras Raras são consideradas um recurso estratégico não apenas pelo valor econômico, mas também pelo impacto social e tecnológico que representam. O país pode avançar além da simples exportação de minérios e construir uma cadeia industrial integrada, desde a mineração até a produção de ligas metálicas e componentes de alta tecnologia.
“O Brasil tem uma janela de oportunidade para desenvolver uma indústria robusta, dominando desde a mineração até a fabricação de produtos de valor agregado, como superímãs, semicondutores e baterias de nova geração”, reforça Mathias Heider.
Se bem conduzido, o movimento em torno das Terras Raras pode colocar Mato Grosso e o Brasil no mapa das economias do futuro, associadas à transição energética, à inovação tecnológica e à soberania geopolítica.
A corrida mineral já começou – e os próximos passos dependem da capacidade do país de atrair investimentos, garantir sustentabilidade e transformar potencial em desenvolvimento real.














