Os incêndios florestais em Mato Grosso atingiram proporções alarmantes, comprometendo não apenas a saúde da população e o meio ambiente, mas também a segurança das operações aéreas na região. Na tarde desta quinta-feira, um avião da Azul Linhas Aéreas, que realizava o trajeto entre Campinas (SP) e Sinop (MT), foi obrigado a abortar o pouso devido à intensa fumaça que encobria o aeroporto regional João Figueiredo. A aeronave, um Airbus A320, sequer chegou a sobrevoar o aeroporto, retornando para o Aeroporto de Viracopos, em São Paulo, onde pousou às 19h, após quase quatro horas de viagem sem sucesso.
O incidente também levou ao cancelamento do voo de retorno de Sinop para Campinas, afetando dezenas de passageiros que estavam aguardando para embarcar. Em nota, a Azul Linhas Aéreas lamentou o transtorno e informou que os clientes receberão assistência, incluindo realocação em voos extras, conforme determina a Resolução 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “A Azul lamenta eventuais transtornos causados e reforça que ações como essa são necessárias para garantir a segurança de suas operações”, destacou a empresa.
O episódio reflete uma realidade cada vez mais crítica em Mato Grosso, onde os incêndios florestais têm aumentado de forma descontrolada, agravados pela seca severa e a falta de medidas efetivas de prevenção. Nos primeiros dez dias de setembro, o Pantanal já registrou 736 focos de incêndio, quase o dobro dos 373 focos registrados no mesmo período do ano passado, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A situação não se limita ao Pantanal: em todo o estado, os incêndios se alastram por áreas urbanas e rurais, ameaçando vidas, propriedades e a fauna local.
Entre as manchetes recentes, destacam-se os incêndios que devastaram 41 terras indígenas em Mato Grosso, colocando em risco a segurança alimentar das comunidades, que dependem diretamente dos recursos naturais. Além disso, o Corpo de Bombeiros do estado tem enfrentado desafios constantes, combatendo dezenas de incêndios diários. Somente nesta quarta-feira, 48 incêndios florestais foram registrados e combatidos, enquanto homens do Corpo de Bombeiros Militar detiveram um homem acusado de iniciar um incêndio em Sinop, em um esforço contínuo para coibir ações criminosas que agravam a situação.
A fumaça, densa e tóxica, se espalha por diversas cidades, reduzindo a qualidade do ar e aumentando casos de problemas respiratórios, especialmente entre crianças e idosos. Em Santo Antônio de Leverger, por exemplo, o Corpo de Bombeiros precisou atuar em um incêndio em uma oficina mecânica, agravado pelas condições de ar seco e forte calor. Em Cáceres, um incêndio de grandes proporções atingiu uma fazenda e cercou nove trabalhadores, em mais um episódio que evidencia a vulnerabilidade e o risco de quem vive e trabalha próximo a essas áreas.
As autoridades têm buscado medidas para conter a situação, mas o avanço das queimadas revela um cenário de urgência e falta de controle. No Congresso Nacional, senadores apresentaram projetos para agravar as penas de crimes relacionados a incêndios, enquanto o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil intensificam os esforços para combater e prevenir novos focos. No entanto, a falta de políticas de prevenção efetivas, associada a práticas agrícolas inadequadas e à ação criminosa, continua a colocar a região sob risco constante.
O impacto dos incêndios vai além do imediato, comprometendo a biodiversidade, as atividades econômicas e a própria sustentabilidade da região. O fato de um avião precisar retornar para São Paulo, desistindo de pousar devido à fumaça, é um símbolo do caos ambiental que se instalou e da urgência em tomar medidas concretas e eficazes para enfrentar a crise que consome Mato Grosso e suas riquezas naturais.